A história da contratação do craque que virou mico e do contrapeso que virou ídolo!

 

Por Paulo Unzelte

 

Foi em maio de 1951 que uma das histórias mais pitorescas do Corinthians aconteceu. Tudo começou quando o alvinegro se interessou em contratar o meia Ciciá, do Jabaquara (time da cidade de Santos), que havia sido considerado uma das principais revelações do Paulistão de 1950. Vários clubes concorriam pelo passe de Cicia, inclusive nosso principais rivais, mas, o Coringão foi mais esperto e fechou negócio com o Jabaquara. Só que quando tudo parecia certo, aconteceu um dilema: O Jabaquara só venderia Ciciá se o Corinthians também contratasse um jovem goleiro chamado Gilmar. Os dirigentes corintianos no início se negaram a ceder às pressões do time do litoral e chegaram a desfazer o negócio com o meia.

Não demorou muito para que o Corinthians voltasse a conversar com Jabaquara, motivado pelos problemas que enfrentava em renovar os contratos dos seus goleiros (o titular Cabeção e o reserva imediato Bino), a contratação de Gilmar seria usada para colocar pressão para que os outros goleiros se “tocassem” e diminuíssem suas propostas para permanecer no clube. Na prática, a chegada de Gilmar serviu para a saída do veterano Bino do Timão. Em termos de condições técnicas, Gilmar não passava de uma promessa e era desconhecido pela maioria dos torcedores. O próprio Gilmar comentou a surpresa da possibilidade de ir para o Corinthians em entrevista para o MIS – Museu da Imagem e do Som: “O presidente do Jabaquara me chamou e disse que eu poderia ir pro Corinthians. Fiquei feliz, pois o Jabaquara havia levado algumas goleadas no Paulista de 1950 comigo no gol e mesmo assim eu era considerado o melhor em campo por ter evitado outros muitos gols no mesmo jogo. Mas eu era muito jovem e havia jogado pouco como titular do próprio Jabaquara”.

O grande nome da negociação, era sem dúvida um mulatinho esbelto de nome Ciciá. O jornal “O Esporte” e a “Revista do Corinthians” anunciaram a chegada de Cicia como um jogador que tocava os “sete instrumentos”, pois ele jogava de centro-médio, médio direito e médio esquerdo, além de jogar no ataque – principalmente na meia-direita, sua posição de origem. A “Revista do Corinthians” cravou sem medo: Ciciá está destinado a brilhar na defesa das nossas cores. Como curiosidade, os jogadores declararam à reportagem da “Revista do Corinthians” sua satisfação de chegar ao clube. Gilmar disse: “Estou num grande clube e espero corresponder às expectativas. Vamos tudo fazer para sermos campeões paulistas”. Já Cicia teve mais espaço na matéria: “Até parece um sonho que sou profissional do Corinthians! Tudo que a gente fizer por este grande e glorioso clube faz pouco, porque ele faz muito por nós”, completando com uma verdadeira pérola: “ Sempre considerei o Corinthians um dos melhores conjuntos dos nossos gramados. O que lhe tem faltado é um pouco de chance, mas este ano (1951), não por ter-me contratado, penso, será o ano da grande satisfação dos corintianos”.

Na hora que a bola rolou, o craque Cicia se transformou em mico – tendo atuado em apenas dois jogos e não marcou. Já o contrapeso Gilmar transformou-me num dos maiores nomes da história do Corinthians, tendo atuado em 395 jogos, conquistando o título do Rio-São Paulo de 1954 e os Campeonatos Paulistas de 1951/52 e 1954, além das Copas do Mundo de 1958 e 1962 pelo Brasil.

Uma resposta

  1. ae mano, muito boa essa sua matéria hein véio
    é tipo uma história que o “ATOR TRANSFORMA-SE NO DIRETOR”.
    Parabéns, velho.

    VAI CORINTHIANS

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